Você já se perguntou como surgiu o termo “sugar baby”? A história de Alma de Bretteville, uma das figuras públicas mais marcantes dos Estados Unidos, explica essa curiosa expressão. Com uma origem humilde, Alma usou sua beleza e inteligência para conquistar não só o coração de um magnata, mas também para deixar um impacto duradouro na cultura e filantropia de São Francisco.

É quase de conhecimento geral que o uso da palavra sugar e seus segmentos referenciam-se a um tipo não convencional de relacionamento, baseado em troca de vínculo afetivo por interesse financeiro, mas você sabe qual foi o ponto de início da expressão e a ligação dela com uma das maiores figuras públicas estadunidenses do século passado, Alma de Bretteville?

Alma Charlotte Corday Le Normand de Bretteville Spreckels nasceu em São Francisco, na Califórnia, em 1881. Foi conhecida como “Big Alma (Grande Alma, em tradução livre)” e “A Grande Avó de São Francisco” por conta de seus 1.80 m de altura e imensurável contribuição filantrópica e artística à cidade.

Origem humilde e paixão pelas artes

Descendente de dinamarqueses desabastados, Alma adquiriu desde muito cedo o ritmo pesado de trabalho dos pais, que se dividiam entre administrar pequenos empreendimentos da família (uma pequena padaria, uma lavanderia e uma casa de massagens), e largou a escola aos 14 anos de idade para se tornar taquígrafa, mas logo descobriu que a paixão de sua vida eram as artes.


Quadro de Alma, pintado por Richard Hall, em 1924
Foto: Online Archive of Califórnia

Por chamar muita atenção com sua beleza natural, altura e grande presença de espírito, e, por curiosidade, frequentar algumas aulas na renomada San Francisco Art Institute (Instituto de Artes de São Francisco), em pouco tempo ela se viu repleta de convites para modelar para artistas do instituto. Ela, então, foi rapidamente se tornando conhecida no cenário artístico local por sua segurança e espontaneidade em posar nua para os mais diversos tipos de obras, de esboços de anatomia humana feitos por estudantes de desenho até esculturas e pinturas de renomados artistas plásticos californianos.

Monumento Dewey, em São Francisco Foto: Bigstock – Goddess of Victory Statue atop the Dewey Monument at Union Square in San Francisco

De todas as obras que figurou, a sua participação mais importante foi a do Monumento Duwey, criado em 1901 pelo escultor Robert Ingersoll Aitken e que representa Nice, a deusa grega da vitória. Localizado no centro de São Francisco, o corpo da estátua foi modelado com base em Alma, que, dentre várias modelos selecionadas para representar a deusa, foi escolhida por um voto decisivo de um dos membros honorários do Comitê dos Cidadãos São-francisquenseso magnata Adolph Spreckels, que viria, futuramente, a se tornar seu marido.

Casamento com Adolph Spreckels, magnata do açúcar

Com apenas 22 anos na época, Alma conheceu o rico empresário Adolph, herdeiro da, até então, maior refinaria de açúcar do mundo, a Spreckels Sugar Company. A diferença de idade entre os dois era de 24 anos e, após um relacionamento de cinco anos, banhado a presentes caros, viagens e convívio frequente em locais da alta sociedade, em 1908, aos 27 anos de idade, ela casou com o magnata do açúcar e tornou-se a mulher mais rica de São Francisco – e, a partir daí, originou-se o termo sugar daddy (papaizinho de açúcar, em tradução literal); posteriormente, com a repercussão do casório e as polêmicas causadas pelo comportamento excêntrico de Alma, a mídia alcunhou-a de sugar baby (bebê de açúcar), utilizado para referir-se a alguém que é beneficiado financeiramente por uma pessoa mais velha.


Monumento Dewey, em São Francisco
Foto: Bigstock – Goddess of Victory Statue atop the Dewey Monument at Union Square in San Francisco

Unir-se oficialmente à Alma trouxe uma reputação positiva à Adolph e a Spreckels, já que, antes do casório, ela era um nome conhecido por desenvolver um dedicado trabalho filantrópico e sempre organizava diversos eventos para arrecadar dinheiro para organizações de caridade. Por outro lado, Adolph, até a sua morte, em 1924, sempre chamou atenção da mídia por conta da extravagância dos presentes dados à sua sugar baby; um deles, possivelmente o mais conhecido, foi a Mansão Spreckels, avaliada atualmente em quase 103 milhões de reais (28 Mi dólares).


Mansão Spreckels, em São Francisco
Foto: Online Archive of Califórnia

E a Mansão Spreckels foi utilizada por Alma em toda a sua glória: ela não só organizava extravagantes festas privadas (com direito a dançarinos, socialites, drag queens, e go-go boys nus que dançavam nus na piscina), como eventos de arrecadação de fundos para instituições de caridade, além de também ter sido usada como abrigo durante a Segunda Guerra Mundial.

Viagem à Europa e aquisição de obras clássicas

Durante A Grande Depressão, maior crise econômica do século 20, em 1929, Alma não estava mais conseguindo levantar valores significativos para o seu trabalho de caridade, o que levou a uma temporária mudança para a Europa, em 1914.

Na França, ela tornou-se muita amiga da atriz Loïe Fuller, atriz e dançarina norte-americana precursora da dança moderna e técnicas de iluminação de palco, que a apresentação para toda a classe artística europeia. Nesse processo, conheceu o escultor francês François-Auguste-René, mais conhecido como Rodin, e se tornou uma das suas clientes mais memoráveis, voltando para São Francisco com 13 esculturas de bronze, dentre elas a lendária obra O Pensador.

The Thinker by Rodin-second cast in the original cast and signed by Rodin himself. Buenos Aires Argentina

Alma de Bretteville foi uma mulher à frente de seu tempo, que, com origem humilde, construiu uma vida extraordinária ao se envolver no mundo das artes e casar-se com o magnata do açúcar, Adolph Spreckels. O relacionamento deles deu origem ao termo “sugar baby”, e Alma se tornou uma das figuras mais ricas e influentes de São Francisco. Além de ser musa de grandes obras artísticas, Alma dedicou-se à filantropia e foi uma colecionadora de arte, trazendo importantes esculturas da Europa para os Estados Unidos. Seu legado permanece vivo até hoje, tanto pelo impacto cultural quanto pelas polêmicas em torno de sua vida pessoal.

Saiba mais sobre

Quem foi Alma de Bretteville?
Alma de Bretteville foi uma figura pública americana do século XX, conhecida por sua contribuição às artes e por ser a primeira “sugar baby” registrada.

Como Alma se destacou no cenário artístico?
Ela começou como modelo em São Francisco, posando para renomados artistas e, mais tarde, se tornou uma figura central na comunidade artística local.

Como surgiu o termo “sugar baby”?
O termo surgiu após o casamento de Alma com Adolph Spreckels, magnata do açúcar, que a cobria de presentes luxuosos, originando o conceito de “sugar daddy” e “sugar baby”.

Qual foi a contribuição filantrópica de Alma?
Alma organizava eventos de caridade e doou grandes somas de dinheiro para instituições beneficentes, além de utilizar sua mansão para festas beneficentes.

Qual foi o impacto de Alma nas artes?
Alma trouxe importantes obras da Europa para os Estados Unidos, incluindo esculturas de Rodin, como “O Pensador”, e foi uma colecionadora apaixonada.

O que a Mansão Spreckels representava para Alma?
A mansão era um símbolo de sua riqueza e poder social, usada tanto para festas extravagantes quanto para abrigar atividades de caridade.